domingo, 2 de novembro de 2008

Nem quero você enfeite do meu ser

"Eu gosto dessa música do Caetano" disse ela baixinho no carro, mesmo sabendo que ele não faria nenhum comentário a respeito, talvez por não se importar com ela, ou com o Caetano. Por isso o "Eu também gosto" soou como poesia aos ouvidos. Talvez ela não o conhecesse como achava, talvez ele estivesse ligeiramente mudado.
Adorava surpresas assim, pequenas coisas que ninguém reparava, mas que para ela, tomavam uma dimensão tamanha. Era verdadeiramente feliz nesses momentos. Não aquela felicidade certa e segura, pois nunca teve grandes pretensões futuras, mas um contentamento momentâneo que a fazia lembrar diversos porquês.
Palavras jogadas, idéias não concluídas, sentimentos embaralhados com os quais nenhum dos dois sabia lidar... Não fazia mal, martirizaria-se no dia seguinte, tentando decifrar cada gesto e tudo o que foi dito em meio a beijos e sussurros. Naquela hora, não havia mais ninguém no mundo, não importava tudo o que já berraram nas inúmeras brigas, no dolorido passado que carregavam e dividiam, na culpa que o obrigavam a ter, eram o mesmo sorriso, o mesmo toque, o mesmo gosto.
Acabava tão depressa, mesmo se ficassem juntos horas, dias, semanas. O mundo sempre acabava batendo à porta e não esperava que fosse diferente.
Eram livres demais para aprisionarem um ao outro...

"Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor"