quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Faz bem olhar para o lado


Tem dias que eu só quero pensar no que é melhor para mim, na minha vontade e querer. Tem dias que eu só quero conjugar o verbo na primeira pessoa. Todo mundo tem isso.
Mas, a gente anda vivendo em um mundo tão "EUzificado" que começo a achar que a solução é tentar pensar mais no coletivo. Claro, que na era atual da sustentabilidade, esse conceito está mais do que difundido (mais ainda se você é Relações Públicas!) na cabeça das pessoas. O "nós" gera mais benefícios. É fato comprovado.
Porém, hoje eu confesso que estava naquele dia acima mencionado: "Se não diz respeito a mim eu não quero saber".
Estava saindo da faculdade e o mau humor tomou conta pois eu não teria ninguém para me trazer para a casa. Injustamente amaldiçoei a vida por conta disso. Injusto sim, porque eu nunca pego ônibus.
No auge da minha falta de simpatia, estava eu sentada (pois é, eu sei, reclamar de ônibus em que se consegue sentar!), esperando minha hora de descer, ouvindo música e totalmente alheia a realidade que ali me cercava.
Por algum motivo eu resolvi olhar para o lado.
Vi uma moça de pé no ônibus não mais vazio como na hora que eu entrei (como eu nem tinha reparado que ele enchera!?), aos pratos, encostada na porta e com a mão sobre a barriga. Imediatamente eu me levantei, me enfiei no meio das pessoas que a rodeavam, e perguntei se ela estava bem. Ela levantou a cabeça e me disse um singelo "não". Ofereci meu lugar a ela e perguntei se tinha algo que poderia fazer. Ela me disse que pararia no pronto socorro no ponto final, pois estava tendo uma crise de úlcera. Não conseguia pensar em nada a não ser aliviar aquela dor, fazer algo, como eu era tão impotente frente a uma pessoa sofrendo! De repente fui invadida por um sentimento de raiva. De mim mesma. Há quanto tempo ela estaria ali, em agonia silenciosa, até que eu a notasse? Pior, por que as pessoas que estavam mais próximas do que eu não fizeram nada? Como algum ser humano consegue passar indiferente quando outro chora, sofre e precisa de ajuda? Até quando vamos andar sem olhar para o lado?
Fiquei triste de ter que viver em um mundo assim. Individual, sem compaixão, solitário. Me recuso, não quero! Não quero acreditar que o estar vivo seja banalizado pois o próximo não importa. Fiquei tão triste por aquela moça de hoje. Triste por todas as outras pessoas que fecharam os olhos para ela. Me lembrei de um texto que eu recentemente mandei a um amigo, da Martha Medeiros, que diz: "Triste é não sentir nada. Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta".
Assim espero e desejo...

2 comentários:

Nil Lino de Mattos disse...

Faz bem olhar para o lado e, principalmente, conseguir olhar para dentro de você e " re-ver".
beijo

Homero disse...

A gente se perdeu no meio da multidão ou foi ela que invadiu o nosso espaço? O que mais me apavora é ter a sensação de que o ser humano pode ser comparado a uma garrafa pet. Mais descartável que isso, impossível.